sábado, 5 de outubro de 2013

Jose Sepulveda

Lei do amor

“Manda o subsecretário
Desta Direção Geral
P’ra que seja conhecido
Como uma lei Mundial
E para ser publicado
O que passo a decretar
Que a partir de hoje em diante
Seja proibido amar.”

… E poeta chorou…
Queria cantar as trevas,
Aos ventos, as tempestades.
Alegrias e tristezas.
À lua, à escuridão…
Apenas, para o consolar,
Tinha um nobre coração…

E sonhou (para sonhar
Que poderia viver)
Que iria infringir a lei…
Mas o iriam prender

Pensou: irei para a cadeia!
(Ai, aquela triste cela!)
Mesmo assim, estava contente
Pois teria bem presente
A sua imagem tão bela…

E o triste sonho que teve
Tornou-se realidade,
Foram-no buscar a casa
P’ra a cadeia ir, de verdade…

… E poeta chorou…
Queria cantar as trevas,
Aos ventos, as tempestades.
Alegrias e tristezas.
À lua, à escuridão…
Apenas, para o consolar,
Tinha um nobre coração…

Foi durante muitos dias
Forçado tão cruelmente
A retratar-se… negar-se…
Mas da sua boca sã,
Nem uma palavra vá
Nem vestígio de disfarce…

E com fortes bofetadas,
Com correntes, palmatórias
Tentam força-lo a falar…
Mas o poeta, coitado,
Nada tinha pra dizer,
Queria amar, só amar

Chamaram-no subversivo,
Deportaram-no do mundo
E no seu rosto, tristeza,
Corre um desgosto profundo…

E olhava p’la janela
As florzinhas ao longe,
Os passarinhos voavam
E seu terno coração
Queria apenas cantar…

E o guarda da prisão –
Era uma prisão sem grades –
Prestava toda a atenção
Ao que o poeta dizia…
E o guarda – ó fantasia! -
Começa a cantar às aves…

… E poeta sorriu…
Ouvia cantar as trevas,
Os ventos, as tempestades.
Alegrias e tristezas.
A lua, à escuridão…
E recebia o consolo
Desse nobre coração…

… E o preso seu vizinho,
Olhava para as montanhas
E começava a cantar…
O guarda que à noite veio
Olhava para as estrelas
E começava a cantar…
Uma mulher que ali entra
Viu o poeta cantando
E começou a cantar…
E o chefe da policia
E o Subsecretário
E o Diretor Geral
Olhavam uns para os outros
E pareciam cantar

E o Subsecretário
Ficou muito triste então
(pôs-se a cantar à tristeza)
E começou a pensar
Aquele triste decreto
Ir revogar, concerteza

Logo no dia seguinte,
Quando chegou, decretou:
Que em todo o Universo
Todo o homem, todo o ser,

“Manda o Subsecretário
Desta Direção Geral
Para todos conhecerem
Como uma Lei Mundial
Que homem ou animal,
Seja d’aquém, d’alem mar
Não podem de modo algum
Nunca deixar de se amar

E ao passa-la p’ra alem
Para a mandar divulgar
Soltou um suave sorriso
E começou a cantar

E o poeta cantou
Podia cantar as trevas
À luz e a escuridão
E tinha p’ra o inspirar
O mais nobre coração
Que nunca deixou de amar…

Nenhum comentário:

Postar um comentário