segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Jorge Caraça

Nas fronteiras da loucura

No silêncio das minhas noites… ouço vozes desesperadas 
Vejo sombras alongadas e lentas… na beira do caminho 
Árvores cansadas e velhas …de ramagens tristes e quebradas
Lagos calmos de águas turvas… e por vezes agitadas
Nuvens que correm para o mar…em farrapos de algodão e linho

Céus de estrelas já mortas…que não me canso de contar
Luas que trocam as fazes…que brincam às escondidas
Cavalos de todas as cores…que não param de galopar
Olhos que espreitam…mãos enormes, que tentam me agarrar
Estradas que não param de crescer…cada vez mais compridas

No silêncio das minhas noites…nas paredes do meu quarto
Desenham-se risos e choros…gestos de covardias e bravuras
Nascem ideias que morrem…filhas de tormentoso parto
Aviões, barcos e viagens…em que só eu não embarco
Neste ruidoso silêncio…habitado por tantas loucuras

Saio de dentro de mim…e livremente posso enfim voar
Há nevoeiros intensos… que cobrem montanhas e rios
Desço e procuro amparo…um ombro onde me recostar
Um regresso, uma mão…uma palavra, o brilho de um olhar
O calor de um beijo…um sorriso que mate enfim este frio

No silêncio das minhas noites…as ruas estão vazias
Nas janelas de luz baça…vejo corpos deitados e ternura
A chama de um cigarro…que treme entre as mãos frias
Olhos rasos de tristezas…rostos que fingem alegrias
Adormeço nesta viagem…nas fronteiras da loucura

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