quarta-feira, 29 de maio de 2013

João Filipe Nogueira

ORAÇÃO

De repente, a luz eclipsara-se.
O dia rendia-se benevolamente,
como um lutador cansado que,
com punhos e gritos já não tinha mais
onde bater, a tristeza instalara-se nos
meus olhos. Cada memória desfiava outra
memória completamente diferente,
tal e qual um grande novelo de linhas emaranhadas
e confusas, e onde desaguavam esses lugares, onde?!
Vi o grande deserto à minha frente,
olhei as ruas aparentemente destruídas, desertas,
e pouco dúcteis ao meu caminhar.
Veio-me uma lembrança mais forte,
de repente, estava a pensar em ti,
na cor dos teus olhos,
na maciez da tua pele,
na melodia da tua voz,
de repente, senti o teu olhar a puxar o meu,
a tua epiderme colada à minha,
e o som da tua voz como uma oração!
O dia clareou mais feliz nos meus olhos,
grávido do milagre dessa recordação,
já não houve sobressalto impossível,
ou angústia imperial,
aquela imagem era nossa,
nós dois a construímos em tempos idos,
provavelmente viva, somente, em mim.
Eu nem sei de ti,
que imagens os teus olhos guardam,
que corpos o teu corpo enleia,
de que fontes abasteces a tua melancolia,
Amor, eu não sei!
Mas, naquele instante em que a luz voltou,
Os meus lábios soletraram a mais bela oração,
eu fui rua fora,
a tristeza ficou para trás, perdida ou, apenas,
escondida noutros espaços temporais!

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