Quem ama pede perdão, quem ama perdoa.
Perdoei-te na despedida,
Sou os pedaços,
De um vidro partido.
Silêncio sofrido,
Erros de amor repetidos.
Ajuda-me a ser,
Capaz, não Vaz.
Meu sangue partilhado,
Sonho meu guardado.
Loucamente, Amo-te.
Como o lobo, a lua,
A luz, a sombra.
O ar, o vento,
O sol, o calor,
O mar, o sal.
O rio o doce da água,
Como eu te amo.
Ninguém o irá ser capaz.
Quem ama pede perdão, quem ama perdoa.
Fome De Afeto
Ensandecida esta fome voraz de afeto
Revelada entre as paredes de concreto
Nas estáticas madrugadas silenciosas
Calando nas entranhas da alma a prosa
Insuportáveis abraços perdidos no vazio
Dispersos nas horas mortas do passado
Entre o sal das lágrimas, denso oceano
Derrocada imprevista dos muitos planos
Ecos sobrevoam a mente abandonada
Desolada diante dos sonhos na calçada
Quando se percebe na dolorosa agonia
De viver no cotidiano a escura nostalgia
Pobres sonhos prematuramente mortos
E pensar que tão pouco eram os desejos
Bastaria apenas um único e sincero beijo
Para cessar a solidão que corta os ossos
Fome exagerada de serenidade e carinho
Cansaço diante dos sistemáticos espinhos
Abissal do existir, tristes valas da realidade
Vis metais impiedosos sepultam a verdade.
Palhaço
Respeitável
público
sou um
palhaço
esfumaço
meu
rosto
com um
largo
sorriso
aos olhos
curiosos
maquiagem
alegre,
visto
roupa
colorida
sou espelho
sem aço
vida dolorida
em fantasia
me disfarço.
Ofereço
a todos
felicidade
mas depois
da face
lavada
o reflexo
do espelho
mostra
por inteiro
minha
verdade.
Circo
é redoma
picadeiro
minha
vida
cigano
neste
mundo
vivo do
abandono,
choro
engolido
uma lágrima
pintada
meu corpo
um disfarce
minha alma
realidade.
Se todos os olhos…
Se todos os olhos fossem
na realidade,
O espelho das nossas almas,
a descoberto
E reflectissem a verdade, em
tudo que se diz
Não haveria tantas mágoas,
por certo
Das traições declaradas, e
mal contadas,
De mentiras tão bem ditas,
e encenadas
Tantas almas des-encontradas,
que assim;
Por alguns olhos enganadores
são falseadas
CONTEMPLANDO HORIZONTES
Mostre-me o horizonte,
mas não me impeça de voar.
Para quê um céu tão lindo se for só para olhar?
Mostre-me a estrada,
mas não queira me dizer onde termina ou começa.
Se a estrada é comprida e estreita, eu tenho pressa, é o que me resta.
Se a viagem não for perfeita
ainda assim farei dela uma festa.
Só cale minha boca se for com um beijo... porque tudo em mim é desejo.
Dê-me dois desenhos do mundo
um colorido e outro por colorir
que eu ficarei com o segundo
para pintar conforme meu juízo.
Dê-me lápis e papel que lhe mostrarei o meu céu.
Borracha não preciso,
não tenho nada que deseje apagar.
Se escrevi linhas tortas foi assim que cheguei
como um rio sinuoso que busca o mar.
Não me cobre exatidão... porque tudo em mim é emoção.
Minha poesia não é uma ciência,
é resistência,
escudo contra os dragões desse mundo de terror
é meu jeito de ir para a guerra,
DESISTIR
Não quero OUVIR o que machuca a minha alma,
palavras sem magia, sem doçura e sem ternura.
Não quero ouvir mentiras e nem falsos sentimentos
que mataram meus sonhos, e meu amor virou loucura.
Não quero FALAR no desejo profundo que ainda sinto
o meu silêncio adormeceu dentro da minha esperança;
nunca mais vou sentir ou dizer que te amo tanto
se me sinto tão sozinha e tão perdida como uma criança.
Não quero VER a peça que a vida me pregou
querer tanto, desejar muito aquilo que não é meu
olhar perdido, sonhos desfeitos, palavras escondidas
Amanheci no teu olhar
Quando a chuva caía
Como poema que lia
Com salpicos de memórias
Que revelam muitas histórias
E sóis que rompem o acordar
Dos silêncios adormecidos
E dos corações aquecidos
Que escreveram teu nome amor
E os ventos guardaram com pudor
Na magia do teu amar…
Gravado nas esquinas da vida
No tempo e recordação sentida
Do caminho que percorri
De tudo o que senti
Nas madrugadas do sonhar
De tanto amar…
Nos beijos do teu sabor
De tanto amor…
No enleio do teu corpo
No encanto do conforto
Que teus dedos percorriam
Nos arrepios que faziam
No corpo perfumado
De amor sempre amado
José António Ribeiro
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