quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Teresinha Oliveira

FEITICEIRA MORENA
A tristeza é uma feiticeira morena que arrasta pelas pernas os desejos inertes, que sem ela, morreriam de vez sem nem saber de que.
Senta-se à borda da taça da noite e ali permanece
A olhar-me como se esperasse o movimento das minhas mãos a enxotá-la
Tal qual se faz com os pombos quando invadem o quintal, em busca das migalhas de pão que voaram da mesa no café da manhã.
Não se vai assim logo
Porque sua pressa repousa nas asas de um pássaro que canta enquanto seduz o vento.

Esgotaram-se as horas dos livros.
Empapuçaram meus olhos, e doeram em minhas ideias mancas que mal saem do lugar
O teto, onde a paisagem se repete intermitentemente, cais de navios naufragados, ondula nas falhas da tinta
Porém, nem as luzes da madrugada riscam um caminho
Trilhas emaranhadas se cortam e entrecortam como as cicatrizes do acidente de viver.
Há tão pouco ainda a tentar.
Na argila da minha descrença em tudo, moldo meu espírito e levanto da cama
Tentando esquecer aquela que não sou.

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