quinta-feira, 3 de outubro de 2013

São Reis

MONÓLOGO

Há alturas em que o sol não 
é apenas o sol
em que o rio não se limita a correr
mas nos invade
e nos transborda
em que a pedra que nos serve de assento
não é apenas um sítio para meditar
mas também para pensar
para relembrar o que foi
para chorar o que poderia ter sido
para delinear metas
traçar paragens
e escolher abrigos

Há alturas em que as nossas fraquezas são expostas
Ressaltam por entre o sol, as pedras,
o percurso silente
de uma corrente
que passa por nós e mal se sente

Alturas em que a nossa solidão
não mais pode ser ignorada
em que os nossos segredos
deixam de ser apenas nossos
em que a nossa dor
grita tão alto que qualquer um a ouve
e não mais pode ser abafada

Mas por vezes sentimo-nos tão sós
tão terrivelmente sós
que tudo aquilo que parecia termos conseguido ultrapassar
e não mais lembrar
nos volta com a força avassaladora de uma tempestade
como um caudal que invade as margens
como uma pedra que faz caminho
como um sol que tenta o pino
e isso torna-se nesse momento
o nosso maior desafio
e a nossa maior e mais dura batalha!

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