sábado, 26 de outubro de 2013

Celeste Seabra

A minha manta castanha

lá fora está a trovejar... e a voz foge-me
chove... não lá fora, mas aqui, dentro do meu olhar...
e eu encosto à cara, o velho cobertor que me afaga, 
não que eu tenha frio,
mas é do vento que vem de dentro de mim mesma...
do silencio que a minha alma teima em ouvir,
do partir...
Do partir de sentimentos, frios como o tempo,
cinzentos e desgastados pelo inverno que me ronda à porta...
Eu, de joelhos encostados ao peito, sentada no meu sofá,
e com as franjas deste aconchego castanho, encostado ao meu nariz,
e conto mentalmente os quadrados estampados da manta,
Talvez porque tenha o pensamento adormecido,
não lhe perco a conta...
talvez, conte até os desenhos imaginários...
enquanto lá fora, o tempo chuvoso corre,
aqui dentro,
aqui dentro ele vive... apenas na minha manta castanha
não sei se é quadrado, como o seu estampado...
mas sei que é triste... exatamente como a cor cinza,
que lá fora no céu existe!
E na minha janela, o som do trovão, estoura...
exatamente como a minha amargura!

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