terça-feira, 22 de outubro de 2013

Angelino Santos Silva

CLAUSURA!

O meu quarto não tem porta.
Mas tem janela.
Da janela do meu quarto
não enxergo o mundo; com o tempo
os vidros ficaram tão negros
como negro ficou o tempo fora do meu quarto
e a luz que não entra no coração dos homens,
também não entra no meu quarto.
O meu quarto não tem porta.
Tem janela. E tem paredes.
E as paredes do meu quarto
são tão impenetráveis
que nenhum sorriso entra
para iluminar a tristeza
que enche o meu quarto.
O meu quarto não tem porta.
Tem janela e tem paredes.
E tem fibra óptica
e é por ela que entra a luz
que me traz o sorriso dos homens
que entristecem o mundo.
O meu quarto não precisa de porta,
nem de janela transparente:
tudo o que é preciso para manter intacta
a minha insignificância
entra por esse feixe de luz; é nesta altura
que percebo o sorriso dos homens
que apostam na minha ignorância
que mantém permanente a minha clausura!

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