sexta-feira, 26 de julho de 2013

Pétala Maria

Acordei com o sol entrando pelas frinchas das janelas. De um salto saí da cama e abri as janelas de par em par. 
O sol inundou todo o quarto, arrastando com ele o aroma do jardim.
Após um frugal pequeno almoço, peguei no livro e no caderno e desci. O ar matinal era suave, perfumado e a brisa agradável.
Ainda bem que hoje estou só. A Silvia foi de férias e o meu pai foi chamado à capital para uma reunião de emergência.
A empregada atarefada nas lides domésticas parece alheia a tudo o resto.
Que paz. Que bom estar aqui munida das minhas memórias , dessas memórias que me fazem viver.
Este livro contém a minha história. A história do meu coração...da minha esperança.
Está escrito como conheci o ser humano mais bonito, encantador e generoso que se infiltrou no meu coração para aí fazer morada permanente. Eu deixei-o ficar. Porque se o deixasse partir meu coração ficaria mais pobre e triste.
Numa tarde de Novembro eu encontrava-me à porta do hospital onde meu pai trabalhava, sim porque dez anos passaram desde aí; fazia um vento forte que arrastava consigo as folhas secas de outono. Eu encostei-me a um austero carvalho e vi -o aproximar-se devagar, com passo regular e firme.
Sorriu-me e perguntou meu nome. Fiquei corada. Minha timidez sempre me pregava partidas.
Ele disse-me que tinha ar de rosa...que me chamava rosa.
Subitamente comecei a rir. 
Ele olhou-me com um ar doce e simpático e perscrutou meu olhar.
Rosa, disse eu. Chamo-me Rosa , mas como soube?
perguntei. Ele disse que me achava linda como uma. Como uma linda rosa das tantas do seu jardim.
Apresentou-se como Daniel. 
Conversámos um pouco e descobri que era enfermeiro no mesmo hospital onde meu pai exercia medicina.
Exultou de alegria quando soube que Pedro De Afonso era meu pai.
Tinha uma admiração por ele.
Quando meu pai chegou estavamos nós envolvidos numa conversa sobre o tempo que fazia.
De vez em quando nosso olhar encontrava-se e brilhava.
Fui de braço dado com meu pai até ao carro.
Ele acenou-me com um sorriso que nunca saberei descrever. O sorriso mais luminoso e perfeito que vi debaixo do sol.
Daniel....é a nossa história, os momentos mais marcantes que transcrevo para o caderno nesta manhã de primavera.
Saimos no fim de semana seguinte. 
E no outro e sempre.
Pediu a meu pai permissão para namorar comigo. Festejámos à luz cintilante das estrelas quando meu pai o permitiu.
Entrou assim na minha vida, o meu cavaleiro andante.
Trazia-me ramos de rosas de todas as tonalidades e oferecia-me joias.
Mas nunca esquecerei o melhor que me deu.
Daniel deu-me literalmente a vida.
Alguns meses depois de iniciarmos nosso namoro, eu adoeci gravemente. Estive em coma.
Daniel nunca me abandonou. Todos os dias falava comigo, embora eu não lhe pudesse responder.
Apesar do diagnostico ser muito mau, ele sempre acreditou que eu voltaria para ele.
As rosas chegavam com ele. Acredito que lhe senti o aroma imensas vezes.
Deslocou-se a Paris, procurou outras opiniões mesmo quando meu pai em revolta gritava e dizia que não havia cura para a maldita doença que me assolou.
Mas como se diz, o amor é mais forte que a morte.
Trouxe de França um médico de medicina alternativa.
E...o tratamento gradualmente surtiu efeito. Saí do Coma e vi o amor ali materializado no Daniel.
Recuperada senti-me a mulher mais afortunada e feliz.
Viajámos para Paris. Tantos episódios estão escritos neste livro que transcrevo com borboletas em volta de mim.
Silvia, a minha filha querida ´a cara do pai.
Desde que casei que vivo um mar de rosas. Daniel trabalha longe vindo a casa aos fins de semana...quando posso vou juntar-me a ele.
Aqui as flores são testemunhas desta história de amor.
Um amor tecido de generosidade e respeito.
Um amor que guardarei sempre. Um amor de rosas, de ternuras... e certezas. 
UM amor infinito....até depois da morte.
Eu acredito.

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