quarta-feira, 29 de maio de 2013

Francisco Valverde Arsénio

MULHER VAGUEANTE

Assim, quase saído do nada e do espesso tempo, um fio angular de luz solta-se-lhe dos olhos de mulher vagueante. Os seios, cordilheira esculpida na planície de um corpo-rio, rasgam o azul no quase-nada de uma estrela escondida no eclipse da alma. Deambula muda deixando para trás pedaços do passado como se fosse um jardineiro que varre as palavras uma a uma de um livro deixado ao acaso no banco de jardim. Cheira a flores e há ecos de Junho na mutação da primavera. Ela, aguarela inteira do sol-pôr, deita-me um olhar chamamento de fêmea em ciclo de folhas novas. Os lábios pedem-me abandono e os seus olhos insistem que abrace o fogo inquieto que lhe persegue a sombra. Sabe a mar e a morangos e tem a pele pintada de chuva… e permitiu-me voar com ela na lentidão dos ventos.

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