terça-feira, 28 de maio de 2013

Cristina Pereira

TRISTEZA

A tristeza que sinto é profunda.
Advém da mágoa deixada por mil pessoas ao longo de mil anos.
É assim que a sinto. Velha, antiga, milenar… A minha tristeza.
Como se sempre tivesse feito parte do tempo. Ainda, mesmo antes, deste meu corpo aqui existir.
Talvez venha de vidas passadas, de outras almas que reencarnaram em mim e ainda não encontram a sua paz.
Não neste corpo. Não, ainda, nesta vida.
Queria que assim não fosse.
Queria ter o descanso merecido do justo que parte para a batalha e regressa vencedor. Herói.
Queria ser o eremita que na reclusão dos montes venceu o frio, a fome e a solidão. E ficou santo.
Queria ser outra vez criança e começar tudo de novo.
Não queria saber nada do que já sei hoje.
Queria aprender tudo, outra vez, mas doutra forma. Sem dor.
Queria o mundo utópico que só existe nas histórias mágicas da infância; Onde a princesa é sempre bela, casa com o seu príncipe encantado e todos os dragões e bruxas más são mortos ou castigados.
Queria não ser velha.
Queria que a minha história não fosse triste.
Queria voltar à primeira alma, ao meu primeiro ser e dizer-lhe, ensinar-lhe como ser alegre. Como encontrar a felicidade.
Assim deixaria a minha marca. E no ritual de passagem, de geração em geração, de alma após alma, ela chegaria até mim.
Este meu corpo seria, então, o do descanso final. O do repouso do guerreiro. O corpo da paz e da alegria.
Acabaria, em mim, a milenar tristeza.
Já não mais seria velha, mas criança, outra vez. 

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