Francisco Valverde Arsénio
CREPUSCULARMENTE
Foi longa a espera, meu amor…
já não tenho o azul do firmamento nos olhos,
a não ser um pouco de pólen dos astros
nos cabelos e um tudo-nada de alecrim
no cheiro dos passos incertos.
Sou corpo ausente a cada dia que envelheço,
uma mera existência no papel
em que as palavras me vão esquecendo.
Ficaram-me as vontades tardias
e este corpo sem tempo
fotografado a preto e branco;
ficou-me o coração coberto de óxido
que se confunde com os bagos da romã
colhida fora de época.
É tarde, meu amor…
doem-me as cordas vocais
quando soletro o teu nome
com o aparo da caneta,
doem-me as veias
onde o sangue aceso deixou de correr,
dói-me a memória
do diário que não escrevi.
Assombra-me a nostalgia
do verde do mês de Março,
do amarelo dos malmequeres,
do gotejar permanente,
do piar dos pássaros na madrugada.
É tarde nesta manhã de sol-posto
e afogo-me nas poucas palavras imperecíveis
que guardo na caixa dos sonhos...
tardaste…meu amor.
© Francisco Valverde Arsénio
Rosangela Ferris
" VERDE "
Diz-me, meu amor
Diz-me, por favor
Da esperança
o verde é a cor
Mas do verde
é qual a cor?
Diz-me, não te cales
Diz-me, mas não fales
Dos meus olhos
o verde é a cor
Mas do verde
é qual a cor?
Diz-me, não entendo
Diz, não tenhas medo
Da inveja
o roxo é a cor
Mas do verde
é qual a cor?
Diz, se é segredo
A mim podes dizer
Do Sporting
o verde é a cor da esperança
Mas do verde
é qual a cor?
Não é segredo nenhum
Eu digo, sem medo algum
O verde – é da
cor do verde
Pois só o verde
é do verde a cor
só um?
O MAR E EU
O mar é salgado, meu pranto também.
Choro quando sinto a dor de ter
um coração a resistir teimosamente.
A chorar, troço da vida que retém
o gosto amargo–doce de não ser
a morte caminhando docemente.
Apago a luz e, contra senso
é dia claro quando penso,
quando sonho e me revejo pequenina.
Somente aí não tenho idade
e posso dar continuidade
aos meus velhos sonhos de menina.
Assim nasce a manhã. E o novo dia
é sempre um pesadelo, uma agonia
pra quem, como eu, vive ao sonhar,
esperando o fim do dia em ansiedade,
e poder voltar ao sonho, sem idade,
viver de novo , sem querer acordar.
Paula Amaro
VIDA PASSADA
Quem diria que noutra vida
fui princesa asiática ...
o que teria ela feito
para nesta vida por em prática,
de princesa nada tive
escrava agora mais ainda,
escrava do meu país ,
noutras vidas tivemos
países do ocidente......
tivemos Timor, e mais
e desde a Asia e Oriente
quem sabe se noutra vida,
o amor era diferente
fui mãe ou avó dos meus pais
vindo de um país asiático
quem nunca daqui saiu ,,
se eu começar a vasculhar
ainda sou mãe de algum tio
é melhor por aqui ficar
não me meta eu em sarilhos
se não ainda me pode calhar
ser a neta dos meus filhos...
joana rodrigues 16/01/2013
O meu frio
Frio chuvoso
Sem gosto e agreste.
…Vieste intempestivo
A que me esquivo
No enroscar da manta
E noutro aconchegar.
…Prá garganta o rebuçado
De mel gozado e doce
Num maroto degustar
Para a tosse acalmar
A pele aguar o alento
E o amor açucarar.
…Em sentimento poetar
Com letras de calor
Irmanadas em resmas
No fazer de poemas
Até ao frio anoitecer
Em geada acamadas.
…E afadigada a mão
O corpo de gingar
E sopro do coração
Então é o lembrar
Da meta do tempo
E sem contrariar
…De dar momento
À caneta pra relaxar.
In ”O Cantar Das Palavras”
José AM Rodrigues (Zeal)
16*01*2013
AS ONDAS
Danço com as ondas
a canção do mar.
e nas voltas que dou
o mundo parou,
me enleio na espuma,
tropeço nas algas
e salto no vento.
Marisco cristais
que a onda deixou,
semeio meus ais
e conto uma a uma
as gotas da alma
deste mar azul.
Na espuma dispersa,
na areia molhada,
menina travessa
que sou, bem amada,
sorvo a maresia
e ao mesmo tempo
sirvo de alimento
minha fantasia.
Paula Amaro
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