quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Rubrica: Poemas do dia / 16 de Janeiro de 2013




Francisco Valverde Arsénio
CREPUSCULARMENTE

Foi longa a espera, meu amor…
já não tenho o azul do firmamento nos olhos, 
a não ser um pouco de pólen dos astros 
nos cabelos e um tudo-nada de alecrim 
no cheiro dos passos incertos.

Sou corpo ausente a cada dia que envelheço, 
uma mera existência no papel 
em que as palavras me vão esquecendo.

Ficaram-me as vontades tardias 
e este corpo sem tempo 
fotografado a preto e branco; 
ficou-me o coração coberto de óxido 
que se confunde com os bagos da romã 
colhida fora de época.

É tarde, meu amor…
doem-me as cordas vocais 
quando soletro o teu nome 
com o aparo da caneta, 
doem-me as veias 
onde o sangue aceso deixou de correr, 
dói-me a memória 
do diário que não escrevi.

Assombra-me a nostalgia 
do verde do mês de Março, 
do amarelo dos malmequeres, 
do gotejar permanente, 
do piar dos pássaros na madrugada.

É tarde nesta manhã de sol-posto 
e afogo-me nas poucas palavras imperecíveis 
que guardo na caixa dos sonhos... 
tardaste…meu amor.

© Francisco Valverde Arsénio


Rosangela Ferris
" VERDE "

Diz-me, meu amor
Diz-me, por favor

Da esperança
o verde é a cor
Mas do verde
é qual a cor?

Diz-me, não te cales
Diz-me, mas não fales

Dos meus olhos
o verde é a cor
Mas do verde
é qual a cor?

Diz-me, não entendo
Diz, não tenhas medo

Da inveja
o roxo é a cor
Mas do verde
é qual a cor?

Diz, se é segredo
A mim podes dizer

Do Sporting
o verde é a cor da esperança
Mas do verde
é qual a cor?

Não é segredo nenhum
Eu digo, sem medo algum

O verde – é da
cor do verde
Pois só o verde
é do verde a cor
só um?



O MAR E EU
O mar é salgado, meu pranto também.
Choro quando sinto a dor de ter
um coração a resistir teimosamente.
A chorar, troço da vida que retém
o gosto amargo–doce de não ser
a morte caminhando docemente.

Apago a luz e, contra senso
é dia claro quando penso,
quando sonho e me revejo pequenina.
Somente aí não tenho idade
e posso dar continuidade
aos meus velhos sonhos de menina.

Assim nasce a manhã. E o novo dia
é sempre um pesadelo, uma agonia
pra quem, como eu, vive ao sonhar,
esperando o fim do dia em ansiedade,
e poder voltar ao sonho, sem idade,
viver de novo , sem querer acordar.

Paula Amaro


VIDA PASSADA


Quem diria que noutra vida 
fui princesa asiática ...
o que teria ela feito
para nesta vida por em prática,
de princesa nada tive 
escrava agora mais ainda,
escrava do meu país ,
noutras vidas tivemos 
países do ocidente......
tivemos Timor, e mais
e desde a Asia e Oriente
quem sabe se noutra vida,
o amor era diferente
fui mãe ou avó dos meus pais
vindo de um país asiático
quem nunca daqui saiu ,,
se eu começar a vasculhar
ainda sou mãe de algum tio
é melhor por aqui ficar 
não me meta eu em sarilhos 
se não ainda me pode calhar 
ser a neta dos meus filhos...



joana rodrigues 16/01/2013



O meu frio
Frio chuvoso
Sem gosto e agreste.

…Vieste intempestivo
A que me esquivo
No enroscar da manta
E noutro aconchegar.
…Prá garganta o rebuçado
De mel gozado e doce
Num maroto degustar
Para a tosse acalmar
A pele aguar o alento
E o amor açucarar.
…Em sentimento poetar
Com letras de calor
Irmanadas em resmas
No fazer de poemas
Até ao frio anoitecer
Em geada acamadas.
…E afadigada a mão
O corpo de gingar
E sopro do coração
Então é o lembrar
Da meta do tempo
E sem contrariar
…De dar momento
À caneta pra relaxar.



In ”O Cantar Das Palavras”
José AM Rodrigues (Zeal)

16*01*2013







AS ONDAS
Danço com as ondas 
a canção do mar.
e nas voltas que dou 
o mundo parou, 
me enleio na espuma, 
tropeço nas algas 
e salto no vento.

Marisco cristais
que a onda deixou, 
semeio meus ais
e conto uma a uma 
as gotas da alma
deste mar azul.

Na espuma dispersa, 
na areia molhada,
menina travessa 
que sou, bem amada, 
sorvo a maresia 
e ao mesmo tempo 
sirvo de alimento 
minha fantasia.

Paula Amaro





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