sábado, 31 de agosto de 2013

Emília Maria

Meu muito querido

escrevo-te com as palavras impressas no meu coração. Aqui neste meu quarto revestido de saudade e solidão.
Um dia distante no tempo, alguém me confidênciara, que, a saudade era mortal: que como um vírus pode destruir as camadas mais profundas do nosso ser. Não acreditei.
Eu vivia dias gloriosos, a alegria era parte intrinseca a meu ser.
Não. Jamais, a saudade me poderia afetar, muito menos matar.
Afinal eu tinha a vida. Eu era a vida em espendor.
Como me enganei, meu querido.
Quando cruzámos nossos caminhos e nossos corações se fundiram num só, percebi que só então eu ganhara o verdadeiro dom da vida. Sim, o amor fez-me acreditar numa força maior. O amor...esse fogo que arde sem se ver, como dizia o poeta.
Um fogo que alastrava a cada dia e nos envolvia nas chamas apelativas do desejo.
Fomos felizes! Acreditávamos um no outro.
Viviamos um para o outro, mas a luz que de nós emanava, acabava por iluminar nossos familiares e amigos.
As flores que me oferecias,...belas, perfumadas...por Deus eram abençoadas.
As que guardo junto de mim, agora no momento em que me encontro só, ainda transpiram o teu cheiro.
A maldade nos separou.
A inveja não olha a meios para conseguir concretizar seus intentos.
A inveja personificou-se no corpo de Penélope que te seduziu.
Apelei a todos os anjos e santos. Roguei que te devolvessem a mim, a quem pertences.
De nada serviu. Enfeiticou-te com aqueles olhos de corça e mãos de seda.
Agora a solidão alastra, a saudade sufoca.
De noite quando olho as estrelas e vejo teu rosto na lua sinto faltar-me o ar.
Falta-me o chão.
E neste desassossego de que é feito meus dias, sinto-me envelhecer. Definho um pouco mais a cada lua que passa.
Eu que dizia que a saudade não mata!!!!
Ah, mata sim.
Sinto que perdi o vigor.
Meu riso foi-se nos vendavais. Estou triste e só, corcomida como uma velha cómoda despejada no sotão.
Luto, mas não consigo visualizar um pouco de luz.
Que Deus tenha em conta meu muito penar.
Mas, diz-me. Diz-me porque me apagaste a luz do sol.
Onde se escondeu o amor que me dedicavas? porque o deixaste morrer tão cedo?
Sabes que ainda te amo?
E esta saudade tão grande que sufoca...
que sejas feliz.
Eu apenas vivo de lembranças.
Solidão maldita.

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