sexta-feira, 13 de abril de 2012

Os Nossos Poetas


 O Néctar do teu beijo

Ainda sinto na minha boca
O néctar daquele teu beijo,
Que acalmou a rebeldia em mim;
Néctar que havia sido extraído
Das mais belas flores de amor,
Que marginavam aquelas ruas,
Plenas de sol e de ilusões,
Dos tempos da fantasia,
Em que os sonhos eram inventados;
Era um tempo em que o tempo
Se esquecia dele mesmo,
Porque esse tempo era apaixonado
E permitia-nos a loucura
De amarmos irrefletidamente,
Perdidos nos anseios e nos devaneios,
Próprios da inconsciência da idade
E soltava-nos livres, como aves,
Voando nas asas da esperança,
Pelos caminhos do futuro.

José Carlos Moutinho



“VOAR , VOAR”

Sou como ave migratória,
Em cada pouso uma história.
Nos telégrafos sobre os trigais,
Ouço sons floridos do alimento.
Migro, para silenciosos mares,
Lá os cantares são das ondas bravias,
Do frio dos ventos, e, o das cotovias.
Continuo o meu roteiro de ilusões.
Pouso em corações, que me abraçam,
Em outros, sou simplesmente estranha.
Ah, que voos loucos, esses meus!

Vanuza Couto Alves


Cansei de ser desprezada por ti!

Eu cansei de ser tão desprezada,
Por ti! Senti-me então, mal amada,
Sigo sozinha a longa estrada,
De ti, já não espero mais nada!

Estar só no meio dessa multidão,
Sem ao menos tirar-te do coração,
Faz até parecer uma imensidão,
Essa dor que vem da desilusão!

Vou vivendo sem ser por ti amada,
Minha vida, sem ficar magoada,
Desejando a ti, uma tão abençoada!

Terás sempre o meu carinho então,
Mesmo depois desta vã decepção,
Darei a ti apenas a minha atenção!

© SOL Figueiredo


O Vento

Hoje, o vento, bateu desenfreado na minha janela.
Desnorteado, pois não tinha sul nem norte, nem leste nem oeste.
Tinha perdido os seus pontos cardeais; coisa que nunca lhe aconteceu …
… jamais !
Sabia sempre o que queria … e para onde ia,
mas hoje,
era um pobre coitado cabeça de vento.

No momento,
fiquei tal qual ele;
desnorteada,
arrepiada … despenteada,
sem saber o que fazer
sem saber o que dizer.

Serenei.
Acalmei-o também.

Falei-lhe em tom ameno e amigo.
Transmiti-lhe confiança; disse-lhe algumas palavras, das quais gostou.
Mandei-o entrar e sentar-se na minha sala de estar.
Mostrou-se solícito à minha vontade.
Também serenou … conversámos …
Conversou.
Triste, disse-me,
que a sua PrimaVera, qualquer dia o deixaria.
Por pouco tempo cá andaria … três meses … lhe bastaria !
Com que saudade dela ficaria !
Iria navegar ao ‘deus dará’ … sem a sua companhia !
Logo-logo o Verão viria … e com ele,
o esquecimento das manhãs frescas e radiosas que juntos partilhavam.
Era com ela, que via as árvores crescerem, despontarem as folhas,
abrirem as flores, e nascerem os frutos !
Com ela ouvia também todos os cantares d’amores !
O trinado onírico dos pássaros ‘doutores’ …
… e todos os outros sons belos da flauta dos pastores.
Teria saudades …
… das gotas de orvalho, que pela manhã se sacudiam felizes
nas folhas das árvores,
e até das raízes …
… que no chão dançavam ao som do seu sibilar.

O entendimento com o Verão não era muito feliz, não.

Ele era mandão.
Impunha a sua razão
e ouvia
de mau grado
o Outono,
O Inverno,
e a sua PrimaVera.

Isso irritava-o,
deixava-o zangado.

Hoje, decidiu bater à minha janela,
porque sabia,
que todos os dias,
sempre que eu a abria
O ouvia …
… e,
assim,
naturalmente,
… com ele conversaria.

Não se enganou.
Foi um gosto conversarmos.

Entendemo-nos como as rosas se entendem com os espinhos.

Calmos, sorridentes e amigos, suspirámos de alívio !

Dei um beijo ao vento.
O dele, quase não pousou no meu rosto … tal era a pressa !

Quando partiu,
levou consigo na bagagem …
… Todos os Pontos Cardeais … e a nossa conversa !

Tomou o rumo da PrimaVera … encontrou-A … beijando um pomar !

Magá Figueiredo


Decidindo…

As ondas que me cingem o corpo são moduladas pelos murmúrios silenciados de uma partitura inacabada. Aguardo a madrugada em que as aves me trouxerem a melodia que abandonaste, porque receaste a vibração da última nota que deixaste em suspenso… como se ela fosse o primeiro e único andamento no vazio das tuas mãos. Já não sou o arco do teu violino, escolhi o marfim das teclas de um piano. Quero sentir em mim o toque de uns dedos quentes, vivos e ardentes…

© Rita Pais 2012


AH, CERTOS AMORES!...

Mais uma noite não me traz você,
Passo a enfrentar u`a longa solidão,
A ouvir soluços da escuridão
E as cantigas do desassossego.

Ainda sinto não estar bem forte
Para encantar-me com nova paixão.
Quero esquecer-te a demonstração
De desencanto e intenções já mortas.

Desilusão não quero mais sofrer,
Longas carências e fingir que nada
Vem respingando no meu desalento.

Certos amores fazem é corroer
Do dia o ouro e são condenados
A provocar uma real tormenta!

DE ELIANE ARRUDA


Socorro

meu eu conduz-me em contra mão
colide com incertezas

certeza sentada num luar de dúvidas
sombras da verdade passeiam-se

afligem-me

o maldito tempo calou
já não sei quem sou

tempestade combinada com o desencontro
não há retorno da paisagem

palavras esmagam-se
nem sabem o que dizer

luzes apagadas iluminam o futuro
só vejo contornos

procuro-me ! Nos luares de todas as luas
socorro !!! não me encontro !

Ana Silvestre


Como Será Amanhã

É um tempo de saudade
de não ser.
É um tempo de saudade
que não foi
e é isso que dói.

é um travo amargo , esta saudade
que rói as raparigas.
A cidade tem outro rosto
- de piedade.
E as suas gentes já não têm cantigas.
Porque nós amámos, lutámos e morremos.
Já não estaremos cá.
Amanhã o vento passará
varrendo as ruas da cidade
e batendo nas janelas
das casas vestidas de luto
e não há margaridas sobre a mesa.

Paula Amaro

Um comentário:

  1. Ola, Grata pelo v/ sentir... recebi notificação dos v/ comentários no Facebook mas já não consegui ver a publicação... Deixo aqui o agradecimento a todos que leram e sentiram que nunca se deve desistir do que nos faz sentir bem...

    Beijos poéticos,

    (pf utilizem o pseudónimo para me identificar na poesia... ana barbara santo antonio, Obgda)

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