terça-feira, 6 de março de 2012

Os Nossos Poetas


Itinerante

Assim são os meus dias,
Passados entre o sim e o não
Às vezes sim, outras não
Muitas vezes eu e a minha solidão…
Sou assim,
Inconstante
Filha do destino
Saudando o vento galopante
Correndo atrás do sol
Desejando a lua
Assim são os meus dias,
Ora vestida de estrelas
Ora nua…
Esta sou eu,
Mulher farrapo
Do nada surgida
Rebento da terra
Pela vida ferida
...
Mais mulher,
Porque o passado me marcou
Mais confiante
Porque a vida me ensinou
E assim passo os dias
Entre o sim
E o não!
...
Calculando o tempo que o relógio controla
Despindo a pele que a idade amarrotou
Aguardando o futuro
Que se adiantou
E entre sim e não
Mais confiante eu vou…
O agasalho, esse, a minha pele
Vai registando o passar do relógio
Desenhando o meu itinerante destino…

Céu Cruz


DO OUTRO LADO, SILÊNCIO ABSOLUTO

É já noite…
Fecho a janela, que todos os dias,
Me liga ao mundo e onde a cidade,
Suspensa, repousa a meus pés.
Chega-me de longe, o som,
Do comboio, que serpenteia pela linha.
Dos carros que regressam a casa,
Conduzidos por gente exausta.
Do avião que risca o céu,
Levando para longe
Gente que se separa para sempre
E de gatos abandonados, por gente abandonada,
Que miam à lua, que se pavoneia no céu.
Vaidosa…
Deito-me na cama desfeita…
A cabeça, cansada e povoada de sonhos, desfeitos,
Repousa, inquieta, na almofada branca.
Encostadas, aos pés da cama,
Duas asas…
As minhas!
Não as tenho usado!
Espero companhia ou então,
Alguém que me tire,
Do outro lado da minha vida,
Onde o silêncio é absoluto…

Ana Fonseca Luz


ENCANTAMENTO

Para mim ainda és aquele menino,
Ávido de amor por mim, com o teu
Sorriso tímido, dizendo que me amavas.
Para mim ainda és aquele menino,
Quando me roubastes aquele beijo,
Ávido de amor por mim, como se ele
Fosse uma joia rara, um encantamento.
Para mim, ainda és aquele menino,
De quando eu me fiz menina, para viver em
Teus braços, o meu sonho de mulher!

Vanuza Couto Alves


TRISTEZA NA ALMA

A chuva cai mansa e não cansa a minha tristeza
Que balança no horizonte
Perdida na emoção da minha razão
Chuva cai triste não traz a esperança e a lembrança
Dos dias de bonança

Queria ser feliz abraçar a chuva e beber o cheiro da felicidade
Para que a minha razão iluminasse o chão que piso no caminho do meu destino
Tenho visões clarões multidões que me ocupam o espaço não tenho o cheiro
Nem um abraço

Por Carlos Fernando Bondoso Bondoso


O canto da vida

Ensinou-me a vida
A não crer em falsas vitórias
Ou honrarias fáceis.
Vitórias pirricas também não me alimentam a alma.
E o meu maior erro
(recordo a sensação)
Foi ter na boca um riso fácil
A alma inquieta
E a poesia ancorada no coração.
Como o céu e o mar no estio
Acordei hoje sem monotonia
E com um orgulho tenaz e insaciável.
Sei que quando escrevo o amor
Quando choro o amor
Ou quando vivo o amor
É apenas porque amo estar viva.
E não me queixo ingenuamente.
O meu Eu detesta o fácil e o banal,
Sobrevive a guerras
E (por vezes) respira metáforas tragicómicas.
Depois da chuva, o cheiro a terra
E o grito estridente dos pássaros.
E cantei com eles,
Versos, palavras e cor.
Uns jovens outros velhos, todos felizes…

Clara Roque Esteves


Você 

Olhos 
De sol de verão! 

Alma 
De água de nascente! 

Boca 
De fruta viçosa! 

Hálito 
De flor de primavera! 

Corpo 
Audacioso de frenesi! 

Colo 
De constante desejos! 

Andar 
Estonteante e provocante!

Voz 
Sempre sensual! 

Quero você!

Renato Ferraz


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