REENCONTRO
Deito-me no cetim azul pálido das madrugadas e ainda vejo imagens desencontradas e oiço coisas que não entendo.
Dei às noites as cinzas prontas de tudo o que já não existe e roguei à vida que me traga todos os sóis e me acenda todas as estrelas para poder ver o caminho que me vai trazer de volta. Quero desvendar todos os mistérios que vejo ajoelhados a rezar nas copas largas dos pinheiros mansos que protegem o longe do meu ainda tão vasto horizonte mas não consigo sequer tocar-lhes com as pontas dos dedos.
Ó vida em chaga, é em ti que me procuro como as aves marítimas, quase mortas de fome, procuram desesperadas no mar revolto das tempestades o seu alimento escasso. Com este frio cortante e gélido que percorre em mim este labirinto disforme não deixes que se calem as flores tardias que teimosamente continuam a falar-me a e a sorrir-me nas noites paradas mas que ainda respiram.
Um dia virá em que serei eu um jardim sempre em flor regado pela água mais que pura das fontes que guardo na minha memória e que me matou a sede nalgum lugar longínquo da minha infância onde o Sol, quando nascia, eu acreditava ser para todos e o frio da noite era só o frio da noite, aquecido pelas fogueiras das casas. Nelas não havia dores nem medos; havia as vozes bondosas daqueles que velavam o meu sono. A Natureza, essa, fazia desabrochar flores na noite para que de dia, eu e as borboletas pudéssemos jogar à cabra-cega.
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