“VALEU A PENA”
O longo perfil do monte como um rio de água verde, corre ondulando, até se perder de vista no horizonte. E sobre essa imaginária corrente, projeta-se o alvo abrigo da serra onde se inspira o poeta. Vinda talvez de um barranco despovoado, uma garça com o seu vulto branco muito esguio e direito no rio pousa. Dorme talvez, pois qualquer coisa de suspeito seu sono não disfarça! De asa encolhida repousa.
E eu, em contraste, vou bem desperto a correr de peito aberto, saltando de campina em campina pelo meio da neblina, percorrendo vales, subindo montes, com o meu coração a cantar a paixão que me devora, escutando sempre com esperança o que me vão dizendo o borbulhar das fontes por que vou passando nessa correria fora!
Minha voz geme, chora, desafina! E ao longe ouço um eco se repete em voz de falsete, como a de um boneco!
Mas valeu a pena a corrida, minha querida! Como num romance ou aguarela, no nosso abrigo da serra estavas tu meu amor, airosa à janela na luz da lua, quase ao despontar a aurora, ainda à minha espera aquela hora!
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