Nada te digo!
Nada existe para te dizer!
Apenas a minha mão trémula
segurando a tua
com a mesma firmeza aparente
com que desembainho uma espada
lanço uma flecha
seguro um arco
empunho uma arma
colho uma flor
escrevo meia dúzia de palavras
ponho uma pala sobre os olhos
para que a luz não me cegue
Nada te digo!
Nada existe para te dizer!
Apenas que a minha pele
respira pela tua
que é tua a flecha
cravada no meu peito
que é tua a arma que me ensaguenta
que é tua a flor que ornamenta
a minha solidão
que é tua a espada
que me penetra
e trespassa
que é teu o arco
com que rasgo sonhos
que são tuas as palavras
em que me desdenho
e me enlevo
que é tua a mão
que me impede de cegar
que é tua a mão
que passa horas a fio
desenhando ruas no meu cabelo
Nada te digo!
Nada!
Porque nada existe para te dizer.
E no entanto digo-te tanto
nesse aperto fremente
em que a minha mão se perde na tua....
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