domingo, 18 de agosto de 2013

José Pedro Carvalho Marques

ENIGMA DE UM SONHO

Sonhei um dia,
Na lonjura dos tempos
Quando pelos conventos
O som dos ventos
Era oração da eternidade.
Na memória dos rios
De águas puras
A jorrar das fragas dos montes
Fontes abertas num Oreb sem fim,
Num imenso jardim
Onde a giesta, na hora da sesta
Sorria na floresta
Quando Moisés
As sandálias dos pés
Tirou e Deus lhe falou
Na sarça ardente e as tábuas
Da Lei lhe entregou.
No vale ao fundo
Em sono profundo
À sombra dos pinhais
Do Líbano seu POVO
Liberto da escravidão
Seus ais suspendeu na Esperança de pão.
Já então, indolente, a rola gemia,
O rouxinol cantava
Do nascer ao pôr-od-sol
E a andorinha volteava em devaneios
Sem eira nem beiral
E o coelho bravo, matreiro,
De rabo no ar, arteiro,
Saltitava de outeiro em outeiro.
Tudo era bom!
Como no processo da CRIAÇÃO
Deus via que tudo quanto fazia
Era bom, para no fim descansar.
Nesse dia em que sonhei,
A Grei era feliz
Os pés da terra eram raiz.
E dos braços ao céu erguidos
Das gargantas, em vez de gemidos
As palavras eram rios
De águra pura a jorrar
Até ao mar a cantar…

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