quarta-feira, 3 de julho de 2013

Celeste Fontana

ONÍRICA TRANSGRESSORA

Soergo o meu passado.
Da minha caixa de lembranças,
aberta no estalo do tempo,
revelam-se segredos, linhas e novelos
dos quais desnovelados, lentamente,
sorvo cada detalhe

Criança eu era,
infância inquieta, transgressora,
onírica,
já me embriagavam palavras.
Já me deliravam brisas e estrelas,
que me falavam do mais.
Aromas e verdes já me seduziam
Detinha-me nas tardes azuis,
absorta, alheia, quase infinita
entre roseiras e urtigas

Também, já me doía em mim,
o que em mim vivia.
Pensamentos libertários,de um tempo além,
sempre calados, amordaçados,
mortos por imposições impróprias

Minhas noites se faziam densas,
imprecisas, estranhas, de medos
nas quais buscava eu o alívio da dissipação
na lembrança do outro dia e do amanhecer o sol

Ah! Como eu choro, embora me alivie!
Aquela dor aguda, faca afiada, punhal de fogo
de não ter sabido, ainda criança,
frágil, indefesa, oprimida
que além das brisas, tardes e estrelas,
seria do mundo e dor que na minha infância eu tinha
que eu faria agora os poemas meus.

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