ENTRE TELA
por Margarida Cimbolini
ouvi seu cheiro
no canto da rua
vi tua sombra
silhueta escura
salguei-te no pensamento
fiz de ti chuva mar e vento
guardei num lenço
a água que de nós sobrou
água doce que o mar não salgou
aquela onde se evaporaram
nossos seres dementes
voámos muito alto
condensados na nuvem
e correndo no asfalto
deixámos de ser gente
somos agora a água que trouxe no lenço
não faz sentido pessoa
quando a alma voa assim num crescendo
na entre tela da vida ficou neve pura
nem um traço da nossa longura
não estava-mos lá
momento que esconjuro
depuro
e condenso
viagem tripeira ácida peneira
talvez tenha ficado lá
por isso nunca mais fiquei inteira
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