quinta-feira, 6 de junho de 2013

Margarida Cimbolini

ENTRE TELA

por Margarida Cimbolini

ouvi seu cheiro
no canto da rua
vi tua sombra
silhueta escura

salguei-te no pensamento

fiz de ti chuva mar e vento

guardei num lenço
a água que de nós sobrou
água doce que o mar não salgou
aquela onde se evaporaram
nossos seres dementes

voámos muito alto
condensados na nuvem
e correndo no asfalto

deixámos de ser gente
somos agora a água que trouxe no lenço

não faz sentido pessoa
quando a alma voa assim num crescendo

na entre tela da vida ficou neve pura
nem um traço da nossa longura
não estava-mos lá
momento que esconjuro
depuro
e condenso
viagem tripeira ácida peneira

talvez tenha ficado lá

por isso nunca mais fiquei inteira

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