quinta-feira, 13 de junho de 2013

Carlos Rodrigues

“ O SANTO AO SUL “

Santo António de Lisboa,
Também na Serra Algarvia,
Tem nicho, flores, fantasia,
É fagueiro e não destoa.

No Alto de Santo António,
Moça espreita a fechadura,
Para saber em que altura,
Contrairá matrimónio.

Para tal, de olhos fechados,
Recua dez passos largos
E depois com a mão direita,
Mete o indicador no buraco.

À primeira custa um pouco,
Repete, não lhe dói nada,
Assim tentará de novo,
Até estar habituada

A metê-lo, mesmo às cegas,
Se abrir um olho é pior,
Que tonta pode ficar
E deixar cair as pregas.

Não é mais fácil na Fonte,
Acredita, minha filha,
Já aí me partiu a bilha,
Um Santo que andava a monte.

Repete, torna a meter,
Vai contando quantas vezes,
Ficaste com o dedo aceso,
Sem saberes como o tirar,

Atrasaste o casamento,
Pois sempre que a chave falha,
Mais um ano, Deus te valha,
Ficas tu presa por um dedo…

Reza bem a Santo António,
P’ra que te abra ele a porta
Se não ficas com a mão torta,
Nunca mais tocas harmónio.

Há quem diga, aqui para o Sul,
Que Ele era Santo soldado,
Outros Poeta e malandro,
Em manto azul enrolado.

Olha, filha, eu não sei mais,
Nunca fui por essa porta,
Quem cá entrou, não importa,
O primeiro foi teu pai,

Que era apenas sacristão,
Só me pediu licença,
E marcou sua presença
Com chave de bom padrão,

Mas não durou mais que um dia,
Cresceste tu no meu ventre,
Ele mudou de sacristia,
Nunca marcou casamento,

Não conto passos sozinha,
Para trás não andarei,
Mas conselho te darei,
Melhor pedires ao Santinho,

Que te conceda outra chave
E te apresse o casamento,
Que com o dedo dormente, 
Passas as passas do Algarve.

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