quinta-feira, 9 de maio de 2013

São Reis

Nunca o nada foi tanto
e nunca o sangue escorreu tão fácil nas veias

Nunca a noite se tardou tanto
e nunca a manhã foi tão preguiçosa

Nunca a flor da raiva foi tão murcha
e no entanto tão viçosa
e nunca o mar se alterou tanto
para logo se sossegar depois

Nunca o velho foi tão novo
e nunca o sonho
foi tão sonho,
mesmo sendo um pesadelo

Nunca um segredo
foi tão intrincado
tão novelo
e nunca eu me satisfiz tanto
desfazê-lo

Nunca a vida foi tão morta
e no entanto
nunca como hoje
ela entrou tanto na minha casa
pela fresta da minha porta

Nunca o nada foi tanto
e nunca o meu rosto
teve tanto espanto
tanta admiração e desgosto
estampados
como hoje
que me atravessa de lado a lado
que me cerceia o canto dos cisnes
que hoje eu tinha guardado
para cantar só para ti!

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