terça-feira, 16 de abril de 2013

José Brites Marques Inácio

VETUS FICUM
(JBMI)

No cimo de uma figueira 
faço de conta que não vejo 
o lindo passar da manhã
nem o orvalho sempre tão rasteiro
nem o melro que diz o que não posso.
Espero.
Há-de passar a ventania a correr
e segredar-me
e então já me não doerão os pés que balouçam
nem os rios que correm para o mar
tampouco as tardes que andam
não sei por onde
e as alpargatas finalmente descansarão.
Ingloriosamente secas.
Lá mais para a noitinha
quando e onde os frutos ainda não estão
a folhagem abre-se furtivamente
volta a manhã outorgada de sombras
já sem orvalho
e o melro de ressonar por sua bebedeira
empalidece.
É tempo de os pés
procurarem desajeitadamente chão firme.
Nupcial
a ventania chama-me um figo.

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