Tenho fome
tenho fome
de existir
na inexistência
tenho fome
de existir
na inexistência
quero
retribuir
estar
amar
não quero
temporais
alvas entorpecidas
noites enregeladas
tenho fome
do toque
da fogosidade
do relâmpago efémero
quero
o silêncio
a noite
as horas fugazes
não quero
ódios
contendas
opressões
tenho fome
de verdade
virtude
fidelidade
não quero
ilusões
de corpos em frenesi
de sonhos mortos
de ensejos arcaicos
quero
um mundo novo
onde as mãos
se destapem
os lábios se banhem
os corpos se outorguem
quero
mitigar a dor
banir improbidades
admitir com crença
─ já não tenho fome!…
Ana Claré
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