quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Retrato

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Hoje pintei o meu retrato
na tela do momento que fluía.

Olhei-me nas águas e só via
o trivial, o vulgar, o caricato…

Encolhi o olhar, envergonhada,
das águas que me viam no instante.

Como podia eu ali ver nada
se o meu olhar era firme e confiante?

Virei-me dos avessos e sacudi
um interior que pudesse pintar.

Mais segura agora deste estar,
de pincel na mão, dei cor ao que vi:

o sonhar pintei de lua cheia,
com laivos de loucura e ilusão;

o amor, em forma de teia,
onde aconcheguei o coração;

a arrogância, o ódio e a vaidade
atirei para lá do horizonte.

Gastei o pincel, a tinta, a idade.
Não pude, ou não quis, pintar a ponte.




Maria da Fonte


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